segunda-feira, 23 de maio de 2011

Profecias de Chico Xavier - FE

(...) Assim, tive a felicidade de conviver na intimidade com Chico Xavier, dialogando com ele vezes sem conta, madrugada a dentro, sobre variados assuntos de nossos interesses comuns, notadamente sobre esclarecimentos palpitantes acerca da Doutrina dos Espíritos e do Evangelho de Jesus.
Um desses temas foi em relação ao Apocalipse, do Novo Testamento. (...) Desde então, Chico tinha sempre uma ou outra palavra esclarecedora sobre o assunto. Numa dessas conversas, lembrando o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, pelo espírito Humberto de Campos, Lemos Neto externou ao Chico sua dúvida quanto ao título do livro, uma vez que ainda naquela ocasião, em meados da década de 80, o Brasil vivia às voltas com a hiperinflação, a miséria, a fome, as grandes disparidades sociais, o descontrole político e econômico, sem falar nos escândalos de corrupção e no atraso cultural.
Lembro-me, como hoje, a expressão surpresa do Chico me respondendo: “Ora, Geraldinho, você está querendo privilégios para a Pátria do Evangelho, quando o fundador do Evangelho, que é Nosso Senhor Jesus Cristo, viveu na pobreza, cercado de doentes e necessitados de toda ordem, experimentou toda a sorte de vicissitudes e perseguições para ser supliciado quase abandonado pelos seus amigos mais próximos e morrer crucificado entre dois ladrões? Não nos esqueçamos de que o fundador do Evangelho atravessou toda sorte de provações, padeceu o martírio da cruz, mas depois ele largou a cruz e ressuscitou para a Vida Imortal! Isso deve servir de roteiro para a Pátria do Evangelho. Um dia haveremos de ressuscitar das cinzas de nosso próprio sacrifício para demonstrar ao mundo inteiro a imortalidade gloriosa!”
Na sequência da nossa conversa, perguntei ao Chico o que ele queria exatamente dizer a respeito do sacrifício do Brasil. Estaria ele a prever o futuro de nossa nação e do mundo? Chico pensou um pouco, como se estivesse vislumbrando cenas distantes e, depois de algum tempo, retornou para dizer-nos: “Você se lembra, Geraldinho, do livro de Emmanuel A Caminho da Luz? Nas páginas finais da narrativa de nosso benfeitor, no capítulo XXIV, cujo título é O Espiritismo e as Grandes Transições, Emmanuel afirmara que os espíritos abnegados e esclarecidos falavam de uma nova reunião da comunidade das potências angélicas do Sistema Solar, da qual é Jesus um dos membros divinos, e que a sociedade celeste se reuniria pela terceira vez na atmosfera terrestre, desde que o Cristo recebeu a sagrada missão de redimir a nossa humanidade, para, enfim, decidir novamente sobre os destinos do nosso mundo.
Pois então, Emmanuel escreveu isso nos idos de 1938 e estou informado que essa reunião de fato já ocorreuEla se deu quando o homem finalmente ingressou na comunidade planetária, deixando o solo do mundo terrestre para pisar pela primeira vez o solo lunar. O homem, por seu próprio esforço, conquistou o direito e a possibilidade de viajar até a Lua, fato que se materializou em 20 de julho de 1969. Naquela ocasião, o Governador Espiritual da Terra, que é Nosso Senhor Jesus Cristo, ouvindo o apelo de outros seres angelicais de nosso Sistema Solar, convocara uma reunião destinada a deliberar sobre o futuro de nosso planeta. O que posso lhe dizer, Geraldinho, é que depois de muitos diálogos e debates entre eles foram dadas diversas sugestões e, ao final do celeste conclave, a bondade de Jesus decidiu conceder uma última chance à comunidade terráquea, uma última moratória para a atual civilização no planeta Terra. Todas as injunções cármicas previstas para acontecerem ao final do século XX foram então suspensas, pela Misericórdia dos Céus, para que o nosso mundo tivesse uma última chance de progresso moral.
O curioso é que nós vamos reconhecer nos Evangelhos e no Apocalipse exatamente este período atual, em que estamos vivendo, como a undécima hora ou a hora derradeira, ou mesmo a chamada última hora”.
Extremamente curioso com o desenrolar do relato de Chico Xavier, perguntei-lhe sobre qual fora então as deliberações de Jesus, e ele me respondeu: “Nosso Senhor deliberou conceder uma moratória de 50 anos à sociedade terrena, a iniciar-se em 20 de julho de 1969, e, portanto, a findar-se em julho de 2019. Ordenou Jesus, então, que seus emissários celestes se empenhassem mais diretamente na manutenção da paz entre os povos e as nações terrestres, com a finalidade de colaborar para que nós ingressássemos mais rapidamente na comunidade planetária do Sistema Solar, como um mundo mais regenerado, ao final desse período.
Algumas potências angélicas de outros orbes de nosso Sistema Solar recearam a dilação do prazo extra, e foi então que Jesus, em sua sabedoria, resolveu estabelecer uma condição para os homens e as nações da vanguarda terrestre. Segundo a imposição do Cristo, as nações mais desenvolvidas e responsáveis da Terra deveriam aprender a se suportarem umas às outras, respeitando as diferenças entre si, abstendo-se de se lançarem a uma guerra de extermínio nuclear. A face da Terra deveria evitar a todo custo a chamada III Guerra Mundial. Segundo a deliberação do Cristo, se e somente se as nações terrenas, durante este período de 50 anos, aprendessem a arte do bem convívio e da fraternidade, evitando uma guerra de destruição nuclear, o mundo terrestre estaria enfim admitido na comunidade planetária do Sistema Solar como um mundo em regeneração. Nenhum de nós pode prever, Geraldinho, os avanços que se darão a partir dessa data de julho de 2019, se apenas soubermos defender a paz entre nossas nações mais desenvolvidas e cultas!”
Perguntei, então ao Chico a que avanços ele se referia e ele me respondeu: “Nós alcançaremos a solução para todos os problemas de ordem social, como a solução para a pobreza e a fome que estarão extintas; teremos a descoberta da cura de todas as doenças do corpo físico pela manipulação genética nos avanços da Medicina; o homem terrestre terá amplo e total acesso à informação e à cultura, que se fará mais generalizada; também os nossos irmãos de outros planetas mais evoluídos terão a permissão expressa de Jesus para se nos apresentarem abertamente, colaborando conosco e oferecendo-nos tecnologias novas, até então inimagináveis ao nosso atual estágio de desenvolvimento científico; haveremos de fabricar aparelhos que nos facilitarão o contato com as esferas desencarnadas, possibilitando a nossa saudosa conversa com os entes queridos que já partiram para o além-túmulo; enfim estaríamos diante de um mundo novo, uma nova Terra, uma gloriosa fase de espiritualização e beleza para os destinos de nosso planeta.”
Então perguntei a ele: Chico, até agora você tem me falado apenas da melhor hipótese, que é esta em que a humanidade terrestre permaneceria em paz até o fim daquele período de 50 anos. Mas, e se acontecer o caso das nações terrestres se lançarem a uma guerra nuclear? “Ah! Geraldinho, caso a humanidade encarnada decida seguir o infeliz caminho da III Guerra Mundial, uma guerra nuclear de consequências imprevisíveis e desastrosas, aí então a própria mãe Terra, sob os auspícios da Vida Maior, reagirá com violência imprevista pelos nossos homens de ciência. O homem começaria a III Guerra, mas quem iria terminá-la seriam as forças telúricas da natureza, da própria Terra cansada dos desmandos humanos, e seríamos defrontados então com terremotos gigantescos; maremotos e ondas (tsunamis) consequentes; veríamos a explosão de vulcões há muito tempo extintos; enfrentaríamos degelos arrasadores que avassalariam os pólos do globo com trágicos resultados para as zonas costeiras, devido à elevação dos mares; e, neste caso, as cinzas vulcânicas associadas às irradiações nucleares nefastas acabariam por tornar totalmente inabitável todo o Hemisfério Norte de nosso globo terrestre.”
Segundo o médium, “em todas as duas situações, o Brasil cumprirá o seu papel no grande processo de espiritualização planetária. Na melhor das hipóteses, nossa nação crescerá em importância sociocultural, política e econômica perante a comunidade das nações. Não só seremos o celeiro alimentício e de matérias-primas para o mundo, como também a grande fonte energética com o descobrimento de enormes reservas petrolíferas que farão da Petrobras uma das maiores empresas do mundo”.
E prosseguiu Chico: “O Brasil crescerá a passos largos e ocupará importante papel no cenário global, e isso terá como consequência a elevação da cultura brasileira ao cenário internacional e, a reboque, os livros do Espiritismo Cristão, que aqui tiveram solo fértil no seu desenvolvimento, atingirão o interesse das outras nações também. Agora, caso ocorra a pior hipótese, com o Hemisfério Norte do planeta tornando-se inabitável, grandes fluxos migratórios se formariam então para o Hemisfério Sul, onde se se situa o Brasil, que então seria chamado mais diretamente a desempenhar o seu papel de Pátria do Evangelho, exemplificando o amor e a renúncia, o perdão e a compreensão espiritual perante os povos migrantes.
A Nova Era da Terra, neste caso, demoraria mais tempo para chegar com todo seu esplendor de conquistas científicas e orais, porque seria necessário mais um longo período de reconstrução de nossas nações e sociedades, forçadas a se reorganizarem em seus fundamentos mais básicos.”
Pergunta Marlene Nobre pela Folha Espírita - Segundo Chico Xavier, esses fluxos migratórios seriam pacíficos? Geraldo - Infelizmente não. Segundo Chico me revelou, o que restasse da ONU acabaria por decidir a invasão das nações do Hemisfério Sul, incluindo-se aí obviamente o Brasil e o restante da América do Sul, a Austrália e o sul da África, a fim de que nossas nações fossem ocupadas militarmente e divididas entre os sobreviventes do holocausto no Hemisfério Norte. Aí é que nós, brasileiros, iríamos ser chamados a exemplificar a verdadeira fraternidade cristã, entendendo que nossos irmãos do Norte, embora invasores a “mano militare”, não deixariam de estar sobrecarregados e aflitos com as consequências nefastas da guerra e das hecatombes telúricas, e, portanto, ainda assim, devendo ser considerados nossos irmãos do caminho, necessitados de apoio e arrimo, compreensão e amor.
Neste ponto da conversa, Chico fez uma pausa na narrativa e completou: “Nosso Brasil como o conhecemos hoje será então desfigurado e dividido em quatro nações distintas. Somente uma quarta parte de nosso território permanecerá conosco e aos brasileiros restarão apenas os Estados do Sudeste somados a Golias e ao Distrito Federal. Os norte-americanos, canadenses e mexicanos ocuparão os Estados da Região Norte do País, em sintonia com a Colômbia e a Venezuela. Os europeus virão ocupar os Estados da Região Sul do Brasil unindo-os ao Uruguai, à Argentina e ao Chile. Os asiáticos, notadamente chineses, japoneses e coreanos, virão ocupar o nosso Centro-Oeste, em conexão com o Paraguai, a Bolívia e o Peru. E, por fim, os Estados do Nordeste brasileiro serão ocupados pelos russos e povos eslavos. Nós não podemos nos esquecer de que todo esse intrincado processo tem a sua ascendência espiritual e somos forçados a reconhecer que temos muito que aprender com os povos invasores.
Vejamos, por exemplo: os norte-americanos podem nos ensinar o respeito às leis, o amor ao direito, à ciência e ao trabalho. Os europeus, de uma forma geral, poderão nos trazer o amor à filosofia, à música erudita, à educação, à história e à cultura. Os asiáticos poderão incorporar à nossa gente suas mais altas noções de respeito ao dever, à disciplina, à honra, aos anciãos e às tradições milenares. E, então, por fim, nós brasileiros, ofertaremos a eles, nossos irmãos na carne, os mais altos valores de espiritualidade que, mercê de Deus, entesouramos no coração fraterno e amigo de nossa gente simples e humilde, essa gente boa que reencarnou na grande nação brasileira para dar cumprimento aos desígnios de Deus e demonstrar a todos os povos do planeta a fé na Vida Superior, testemunhando a continuidade da vida além-túmulo e o exercício sereno e nobre da mediunidade com Jesus”.
FE: O Brasil, embora sofrendo o impacto moral dessa ocupação estrangeira, estaria imune aos movimentos telúricos da Terra? Geraldinho – Infelizmente, não. Segundo Chico Xavier, o Brasil não terá privilégios e sofrerá também os efeitos de terremotos e tsunamis, notadamente nas zonas costeiras. Acontece que de acordo com o médium, o impacto por aqui será bem menor se comparado com o que sobrevirá no Hemisfério Norte do planeta.
FE - Você também crê que a ida do homem à Lua, em julho de 1969, tenha precipitado de certa forma a preocupação com as conquistas científicas dos humanos, que poderiam colocar em risco o equilíbrio do Sistema Solar?
Geraldinho – sim, creio que a revelação de Chico Xavier a respeito traz, nas entrelinhas, essa preocupação celeste quanto às possíveis interferências dos humanos terráqueos nos destinos do equilíbrio planetário em nosso Sistema Solar. Pelo que Chico Xavier falou, alguns dos seres angélicos de outros orbes planetários não estariam dispostos a nos dar mais este prazo de 50 anos, que vencerá daqui a apenas oito anos, temerosos talvez de nossas nefastas e perniciosas influências. Essa última hora bem que poderia ser por nós considerada como a última bênção misericordiosa de Jesus Cristo em nosso favor, uma vez que, pela explicação de Chico Xavier, foi ele, Nosso Senhor, quem advogou em favor de nossa causa, ainda mais vez mais.
Outra decisão dos benfeitores espirituais da Vida Maior foi a que determinou que, após o alvorecer do ano 2000 da Era Cristã, os espíritos empedernidos no mal e na ignorância não mais receberiam a permissão para reencarnar na face da Terra. Reencarnar aqui, a partir dessa data equivaleria a um valioso prêmio justo, destinado apenas aos espíritos mais fortes e preparados, que souberam amealhar, no transcurso de múltiplas reencarnações, conquistas espirituais relevantes como a mansidão, a brandura, o amor à paz e à concórdia fraternal entre povos e nações. Insere-se dentro dessa programação de ordem superior a própria reencarnação do mentor espiritual de Chico Xavier, o espírito Emmanuel, que, de fato, veio a renascer, segundo Chico informou a variados amigos mais próximos, exatamente no ano 2000. Certamente, Emmanuel, reencarnado aqui no coração do Brasil, haverá de desempenhar significativo papel na evolução espiritual de nosso orbe.
Todos os demais espíritos, recalcitrantes no mal, seriam então, a partir de 2000, encaminhados forçosamente à reencarnação em mundos mais atrasados, de expiações e de provas aspérrimas, ou mesmo em mundos primitivos, vivenciando ainda o estágio do homem das cavernas, para poderem purgar os seus desmandos e a sua insubmissão aos desígnios superiores. Chico Xavier tinha conhecimento desses mundos para onde os espíritos renitentes estariam sendo degredados. Segundo ele, o maior desses planetas se chamaria Kírom ou Quírom.
É a nossa última chance, é a última hora... Não há mais tempo para o materialismo. Não há mais tempo para ilusões ou enganos imediatistas. Ou seguiremos com a Luz que efetivamente buscarmos, ou nos afundaremos nas sombras de nossa própria ignorância. Que será de nós? A resposta está em nosso livre-arbítrio, individual e coletivo. É A nossa escolha de hoje que vai gerar o nosso destino. Poderemos optar pelo melhor caminho, o da fraternidade, da sabedoria e do amor, e a regeneração chegará para nós de forma brilhante a partir de 2019; ou poderemos simplesmente escolher o caminho do sofrimento e da dor e, neste caso infeliz, teremos um longo período de reconstrução que poderá durar mais de mil anos, segundo Chico Xavier. Entretanto, sejamos otimistas. Lembremo-nos que deste período de 50 anos já se passaram 42 anos em que as nações mais desenvolvidas e responsáveis do planeta conseguiram se suportar umas às outras sem se lançarem a uma guerra de extermínio nuclear. Essa era a pré-condição imposta por Jesus.
Não estamos entregues à fatalidade nem predeterminados ao sofrimento. Estamos diante de uma encruzilhada do destino coletivo que nos une à nossa casa planetária, aqui na Terra. Temos diante de nós dois caminhos a seguir. O caminho do amor e da sabedoria nos levará a mais rápida ascensão espiritual coletiva. O caminho do ódio e da ignorância acarretar-nos-á mais amplo dispêndio de séculos na reconstrução material e espiritual de nossas coletividades. Tudo virá de acordo com nossas escolhas de agora, individuais e coletivas. Oremos muito.
O próprio Emmanuel, através de Chico Xavier, respondendo a uma entrevista já publicada em livro nos diz que as profecias são reveladas aos homens para nãoserem cumpridas. São na realidade um grande aviso espiritual para que nos melhoremos e afastemos de nós a hipótese do pior caminho.

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Saudade de Elzio Ferreira de Souza

4 Tribuna Espírita de Salvador  entrevista (Edição de Out. Nov. Dez./2010)


Doutor Elzio, como era mais conhecido no movimento espírita baiano, desencarnou em 2006, aos 80 anos de idade, deixando uma lacuna que dificilmente será preenchida. Para falar sobre ele, entrevistamos a médium
Diana Santiago, atualmente diretora-tesoureira do Círculo Espírita da Oração, a “Casinha”, onde conviveu por mais de 20 anos com nosso homenageado, cuja memória reverenciamos neste momento. Diana é também musicista e professora universitária.



1 – Quem era de fato Elzio Ferreira de Souza?
Essa é uma pergunta difícil! No livro Nosso Lar, aprendemos que o bônus-hora "representa a possibilidade (...) de remunerar alguém que se encontre em nossas realizações, mas o critério quanto ao valor da hora pertence exclusivamente a Deus". De modo similar, penso que somente Deus sabe quem é de fato uma pessoa. Acredito, contudo, poder afirmar que, para nós do Círculo Espírita da Oração (que preferimos denominar de Casinha, como ele mesmo fazia), o irmão Elzio Ferreira de Souza foi sempre o exemplo do fiel seguidor de Jesus. Ele era sobretudo uma pessoa de profunda dedicação à oração, que conseguia estabelecer duradoura sintonia com os mentores da espiritualidade junto aos quais se comprometeu com o trabalho espírita. Era um incansável trabalhador em prol das ideias espíritas, principalmente na divulgação do livro. Mentalidade aberta, dedicada ao estudo aprofundado das obras de Kardec, trabalhar com ele na revisão dos livros e nas atividades doutrinárias da Casinha  foi um aprendizado imorredouro.

2 – O Círculo Espírita da Oração, ou “a Casinha”, como ele dizia, ressente-se hoje da ausência física de Dr. Elzio?
É claro que tivemos que nos adaptar a não tê-lo fisicamente do nosso lado, mas, sua presença é percebida com frequencia na Casinha e, com certeza, ele pode agir com muito mais desenvoltura no mundo espiritual, pois, "desligado dos liames da matéria", pode decerto atuar num nível de abrangência mais amplo.

3 – Tendo convivido com o Dr. Elzio Ferreira de Souza, de que modo você prefere recordar-se dele?
Tive a oportunidade de conviver vinte e três anos no trabalho espírita com Dr. Elzio. Apesar de ser eu mesma uma acadêmica, afeita desde criança ao estudo e, por isso, tendo encontrado em Dr. Elzio desde que o conheci um estímulo para o aprimoramento intelectual, prefiro recordá-lo como o homem de profunda capacidade de oração. Há grande diferença entre um intelectual e um sábio. Considero Dr. Elzio um sábio, no sentido de "espírito de sabedoria" dado no Livro dos Espíritos, em que prevalece a moral sobre o intelecto. Mesmo se suas ideias pudessem parecer estranhas para muitos, mesmo que possa ter errado em uma ou outra avaliação e/ou decisão (só o tempo poderá dizer), sua capacidade de interpretar o legado kardequiano e, sobretudo, o Evangelho de Jesus passava sempre pelo crivo da oração. Recordo-me dele, em resumo, como o indivíduo que examinava os textos que lesse com o critério da razão, seguindo a recomendação de Kardec, mas, sobretudo, como o indivíduo que se banhava na luz da oração para nela encontrar o alimento que o sustentava e guiava em quaisquer decisões. No convívio na Terra, raramente encontramos pessoas assim, pois nosso planeta ainda é um local onde joio e trigo medram lado a lado. Agradeço a Deus poder ter convivido com ele e, espero, aprendido com ele a orar e a servir.

4 – Quatro anos após sua desencarnação, que legado Dr. Elzio deixou para o movimento espírita baiano?
Indubitavelmente, o maior legado de Dr. Elzio ao movimento espírita baiano foi aquele propiciado por sua atividade como diretor da Livraria Vinha de Luz, na Casa de Petitinga (FEEB). Se os livros de Yoguin, seu mentor, não são, penso, apreciados e valorizados o quanto deveriam - pois discorrem sobre problemas doutrinários a partir de ângulos inéditos no movimento espírita brasileiro - seu trabalho como divulgador de livros lançou raízes duradouras no movimento espírita baiano.  Sua forma de atuação nesta área, sua visão doutrinária aliada à capacidade de selecionar obras que enriquecessem os horizontes dos frequentadores daquela livraria em vários aspectos (filosóficos, religiosos e científicos), sua incansável busca por novos lançamentos em várias línguas, possibilitaram a transformação de consciências, ampliando os horizontes intelectuais e espirituais de pelo menos duas gerações de espíritas. Se considerarmos que os beneficiados desta sua atuação se encontram dispersos por todo o estado e muitos deles são inclusive palestrantes e escritores, percebe-se o impacto obtido por sua tarefa.

domingo, 15 de maio de 2011

Compromisso não Cumprido




Dona Miriam quase poderia considerar-se uma mulher realizada e feliz: espírita consciente, participante de obras assistenciais, três filhos íntegros e carinhosos, quatro netos adoráveis, idéias lúcidas, saúde boa, situação financeira estável... O único problema era a "cruz" que carregava no lar: seu marido. 
Existia, latente, um profundo desentendimento entre eles, que eclodia, vezes inúmeras, em atritos e discussões acaloradas que, não raro, desciam ao nível da agressividade. 
Não que fosse má pessoa. Era um homem até generoso, bom pai, caseiro, sem vícios, mas gênio difícil, um tanto impertinente, "qualidades" que, para Dona Miriam, pareciam desenvolver-se na medida em que ele envelhecia. 
-- Só o Espiritismo me dá forças para "agüentar" o Gumercindo - Proclamava, enfática. - Quero estar com ele até o fim, cumprindo meu compromisso. Então estarei livre! - Junto, nunca mais! 
Assim foi até sua morte, após 48 anos de convivência difícil. De retorno à Espiritualidade, já integrada na Vida Maior, Dona Miriam analisava, com generoso mentor, seus sucessos na vida física 
-- Minha filha - dizia-lhe, gentil - você levou existência proveitosa, foi diligente mãe de família, batalhadora nas lides espíritas, servidora da Caridade... Traz bela bagagem de realizações... Mas tem um problema grave, um compromisso não cumprido: seu marido 
-- Como? - interrompeu a senhora com estranheza - Não fui fiel aos deveres matrimoniais? Não o suportei estoicamente, durante quase meio século?! 
-- Esse é o seu problema: você o suportou apenas! No entanto, seu compromisso era bem diferente. Deveria harmonizar-se com ele, superando antigas mágoas remanescentes de convivência anterior. Adotando a postura de quem carregava pesada cruz, você anulou qualquer possibilidade de aproximar-se dele, ajudando-o a superar suas idiossincrasias com a força da amizade. Faltou-lhe, minha filha, o exercício da caridade que silencia, que perdoa, que não guarda ressentimentos, que supera desavenças. E ele precisava muito de sua compreensão. É uma alma perturbada e neurótica, não obstante suas virtudes. Como você de certa forma contribuiu para que ele se tornasse esse homem, em face de influências perversas e negativas que você exerceu sobre seu Espírito em outras vidas, num passado não muito distante, não vejo outra solução para o problema senão uma nova união entre vocês, em existência futura, repetindo as lições do matrimônio, até que aprendam a conviver pacificamente. 
Após o encantamento do início, fatalmente surgem dificuldades de relacionamento na vida conjugal, na Terra, aprendizes insipientes na arte de conviver. 
No entanto, aqueles que atravessam o casamento a "ranger os dentes", como se submetidos a intolerável prisão, forçosamente reencontrarão o cônjuge em novas experiências matrimoniais, presos um ao outro por algemas de ressentimento, mágoa, aversão... 
Somente quando, os elos do casamento estiverem formados por flores de amizade, desfrutarão os cônjuges a liberdade de decidir se seguirão juntos nos caminhos do porvir. 
Livro: "Atravessando a Rua"

Richard Simonetti

terça-feira, 10 de maio de 2011

As pessoas duplas


José Carlos Leal

Chamam-se pessoas duplas aquelas que podem ser vistas em dois lugares ao mesmo tempo. Normalmente, tais fenômenos sucedem com os médiuns desenvolvidos ou com pessoas com quem tais fenômenos acontecem espontaneamente. Aksakof, em seu livro clássico Animismo e Espiritismo (p.256) narra um caso dos mais interessantes.
Conta Aksakof que, em 1845, na Livônia, perto de Volmar, havia uma escola para moças chamada Neuwelcke. Entre as professoras deste colégio, havia uma, por nome Emília Sagée, natural da cidade de Dijon. Logo depois que a professora Emília iniciou suas tarefas docentes, começaram a surgir certos boatos estranhos: uma aluna dizia tê-la visto no jardim ao mesmo tempo em que outra jurava que ela estava na biblioteca. Vejamos o texto de Aksakof:
(...) Mas as coisas não tardaram a complicar-se e tomaram um caráter que excluía toda a possibilidade de fantasia ou de erro. Certo dia em que Emília Sagée dava uma lição a treze dessas meninas, entre as quais a jovem Güldenstubbe, e que, para melhor fazer compreender a sua demonstração, escrevia a passagem a explicar no quadro-negro, as alunas viram, de repente, com grande terror, duas jovens Sagée, uma ao lado da outra! Elas se assemelhavam exatamente e faziam os mesmos gestos. Somente a pessoa verdadeira tinha um pedaço de giz na mão e escrevia efetivamente, ao passo que seu duplo não o tinha e contentava-se em imitar os movimentos que ela fazia para escrever. (Aksakof. op. cit. Vol. II, Cap. IV, item III, p.257-258).
Estes acontecimentos repetiamse com alguma regularidade a ponto de a direção da escola despedi-la, já que aquela faculdade misteriosa de desdobramento inconsciente causava às alunas profunda inquietação.
A bilocação é um fenômeno bastante antigo e autores clássicos a ela já faziam referência. Suetônio em seu livro A Vida dos doze Césares e Tácito nos Anais falam em pessoas que foram vistas em dois lugares ao mesmo tempo. No seio da Igreja Católica também se verificaram vários exemplos de pessoas duplas. Os mais conhecidos são os de Santo Afonso Maria de Liguori (1696-1787), Antônio de Pádua (1195-1231), Francisco Xavier (1560-1663) e Maria de Jesus Agreda (1603-1665).
Iniciemos por Santo Afonso. Em seu livro História de Saint-Alphonse de Liguori, J.de Girord narra passagens das mais interessantes. Um dos episódios mais impressionantes é o seguinte: no dia 21 de setembro de 1744, Santo Afonso, como era de seu costume, rezou sua missa. Depois retirou-se para seu quarto, sentouse em uma cadeira e adormeceu. Ficou neste estado cerca de dois dias, parecendo vítima de um desmaio prolongado. Um dos serviçais da igreja tentou acordá-lo, mas Nicolas Rufino, o vigário geral, que conhecia bem o santo, não permitiu que o fizesse.
Ao final do segundo dia, o santo abriu os olhos e comentou que não estivera adormecido, mas havia deixado o corpo para ir assistir o papa Clemente XIV que estava para morrer. Todos ficaram surpresos com aquelas palavras, entretanto, dias depois, veio a notícia de que Clemente XIV havia deixado a vida do corpo físico exatamente no dia 22 de setembro de 1744.
O caso de S. Francisco Xavier não é menos notável. Em 1571, Francisco viajava para a China em um pequeno veleiro. À noite, a lua desapareceu, grossas nuvens negras acumulavam-se no céu, o vento soprou forte, fazendo jogar o navio perigosamente. O medo apoderou-se da tripulação. Quinze marinheiros decidiram, então, abandonar o navio em uma chalupa. Os ventos, cada vez mais fortes, afastaram o veleiro da frágil embarcação. Quando a borrasca passou, os tripulantes do navio mostraram-se preocupados com os homens que se haviam confiado ao mar borrascoso. Francisco Xavier, todavia, os tranqüilizou, dizendo que os homens seriam encontrados sãos e salvos dali a três dias, o que, de fato, aconteceu. O incrível desta história é o fato de que, após recolhidos ao veleiro, os homens garantiram que haviam sido salvos por Francisco Xavier que aparecera na chalupa, manobrando-a com habilidade e, assim, impedindo que a pequena embarcação afundasse. No veleiro todos se maravilharam, pois o religioso havia passado todo aquele tempo imerso em preces pela salvação do barco.
Santo Antônio de Pádua é também personagem de diversas narrativas sobre bilocação. Em certa ocasião, quando era guardião em Limoges, durante a semana santa, Antônio pregava na igreja da cidade de São Pedro dos Quatro Caminhos; sua voz firme, mas doce, ia espalhando as palavras de vida eterna. Enquanto isso, no convento dos frades menores, cantavamse as matinas do ofício do dia. Santo Antônio era esperado para ler uma das lições matinais.
Já os frades haviam chegado à lição que Santo Antônio deveria ler, quando ele, de repente, apareceu no seio do coro e, em voz solene, pôs-se a cantar a lição. Todos os frades presentes ficaram espantados, porque sabiam que a essa hora, ele estava ocupado em um arrabalde a pregar ao povo. O poder de Deus fez com que, no mesmo instante, ele estivesse com seus irmãos no coro onde cantava uma lição e na igreja de S. Pedro, no meio da multidão, sobre a qual espalhava as sementes do Evangelho. (A Vida de Santo Antônio. p.72- 73. Apud. Clovis Tavares. Mediunidade dos Santos. p.145)
O mesmo relato é feito por um outro biógrafo de Antônio de Pádua. Vejamos esta versão:
Na época em que o santo dava aulas aos frades de Montpellier, deu-se o seguinte: achava-se ele na igreja repleta, pregando ao povo e aos eclesiásticos. Nem bem havia iniciado a sua pregação, quando se lembrou de que deveria estar na sua igreja para cantar um versito, tarefa que ninguém estava preparado para desempenhar, visto ele não ter se lembrado de dar o encargo a ninguém. Sentou-se, então, no púlpito como se fosse descansar como fazia habitualmente e cobriu o rosto com o capuz. Neste mesmo tempo, os frades do coro do convento viram-no aparecer e cantar o aleluia. (Apud. Tavares.op. cit.p.147)
O caso mais conhecido, porém, dentre as bilocações deste santo, foi o seguinte: estava Antônio na cidade de Pádua, na Itália, quando teve notícias de que, em Lisboa, familiares seus estavam sendo acusados de um crime pavoroso. Antônio, preocupado com o rumo dos acontecimentos, deixa seu corpo em Pádua e se transporta para Portugal. Ali, entra no tribunal e faz a defesa do acusado.
Tais faculdades paranormais ou mediúnicas, aliadas às qualidades morais, foram responsáveis pela canonização de muitos santos da Igreja Católica, pois, estes eventos, tidos como milagres, pareciam ser uma espécie de privilégios que Deus concedia aos seus eleitos. Tempos mais tarde, a Doutrina dos Espíritos viria lançar luzes sobre estes e outros fenômenos mediúnicos.
Allan Kardec conta que, tendo interrogado um espírito a respeito de Santo Afonso de Liguori, obteve a seguinte resposta:
(...) O Espírito encarnado, ao sentir que lhe vem o sono, pode pedir a Deus lhe seja permitido transportar-se a um lugar qualquer. Seu espírito ou sua alma, como quiseres, abandona, então o corpo, acompanhado de uma parte de seu perispírito, e deixa a matéria imunda num estado próximo do da morte. Digo próximo do da morte, porque no corpo ficou um laço que liga o perispírito e a alma à matéria, laço este que não pode ser definido. O corpo aparece, então, no lugar desejado. Creio ser isto o que queres saber. (Kardec. O Livro dos Médiuns. Cap. VII, item 119, 1º).
O espírito consultado explica ainda que, de acordo com o grau de elevação do espírito, pode este tornar-se tangível à matéria. A seguir, Kardec pergunta ao espírito se é indispensável o sono para que a bilocação se manifeste. A resposta é a seguinte:
A alma pode se dividir, quando se sinta atraída para lugar diferente daquele onde se acha seu corpo. Pode acontecer que o corpo não se ache adormecido, se bem seja isso muito raro; mas, em todo o caso, não se encontrará num estado perfeitamente normal; será sempre um estado mais ou menos estático.(Kardec. op. cit. Cap. VII, item 119, 3º)
Assim, a bilocação, do ponto de vista da Doutrina Espírita, deixa de ser um milagre, uma espécie de privilégio que Deus concede a alguns poucos bemaventurados para se tornar um modo de ser do espírito humano. A projeção do corpo fluídico a distância nada tem de maravilhosa e nem mesmo de sobrenatural; muito pelo contrário, é um fenômeno físico, objetivo que pode ser provocado pelo próprio médium como parece ser o caso de Santo Antônio; ou ser espontâneo e inconsciente como no exemplo de Emília Sagée.
Deste modo, o Espiritismo procura imprimir a este e outros fenômenos semelhantes um grau de racionalismo e empirismo que os religiosos e os materialistas, por motivos diferentes, procuram negar. Mostrando que o que se tem por maravilhoso ou produto de milagre é apenas aquilo que o homem não consegue explicar racionalmente, o Espiritismo se inscreve na tradição racionalista do Ocidente e oferece ao homem a esperança de buscar as verdades do espírito, não na floresta escura do dogmatismo, mas nas especulações filosóficas e no rigor das experiências de laboratório.
Fonte: História das Idéias e dos Fenômenos Espíritas. Ed. Leymarie.

sábado, 7 de maio de 2011




Elias Barbosa, dirigente da Comunhão Espírita Cristã, médico e professor da Faculdade de Medicina de Uberaba, desencarnou no dia 31 de março aos 76 anos de idade. Foi colaborador direto de Chico Xavier, que conheceu em 1955, em Pedro Leopoldo. Chico Xavier passou a visitar a terra natal de Elias Barbosa - Monte Carmelo (1956 a 1959), recebendo mensagens mediúnicas na residência da mãe de Elias, D. Myrthes Barbosa.
A partir de janeiro de 1959, quando Chico Xavier mudou-se para Uberaba, Elias passou a trabalhar com ele, nas tarefas de desobsessão, sessões públicas e organizando livros em parceria: Enxugando Lágrimas, Entre Duas Vidas, Claramente Vivos, Irmã Vera Cruz, Gabriel, e outros. Escreveu sobre a vida do médium: Presença de Chico Xavier e No Mundo de Chico Xavier.
Organizador de: Antologia dos Imortais (FEB, 1963), Trovadores do Além (FEB, 1965) e O Espírito de Cornélio Pires (FEB, 1965). Em Anuário Espírita (IDE), sempre analisou a obras de Chico Xavier. É um dos entrevistados no livro Depoimentos sobre Chico Xavier (FEB, 2010) e em Reformador (dezembro de 2010).Compareceu à palestra do presidente da FEB Nestor João Masotti, no encerramento das comemorações do Centenário de Chico Xavier em Uberaba, na Comunhão Espírita Cristã, em novembro de 2010.
Elias também foi colega de turma da dra. Marlene Nobre, atual presidente da AME-Brasil e grande amigo de Chico Xavier

A cidade de Uberaba perdeu um grande homem, o médico psiquiatra e escritor Elias Barbosa, mas seus ensinamentos e exemplos ficarão na memória daqueles que tiveram a oportunidade de conviver com ele. Seu legado ficará gravado através de livros, artigos e trabalhos realizados à comunidade espírita de todo o país.
Espírita, médico e escritor Elias Barbosa
Elias Barbosa nasceu em Monte Carmelo, Minas Gerais, em 12 de julho de 1934, e foi registrado como se tivesse nascido no dia 4 de agosto do mesmo ano. Casado durante 47 anos com Cândida Flávia, teve cinco filhos, Eliana, Ricardo, Luciana, Cláudio e Renato, oito netos e dois bisnetos, Elias foi exemplo de homem, marido, pai e avô. “Só tenho elogios a ele. Foi marido exemplar e pai amoroso. Um grande companheiro para todas as horas. Foi uma pessoa íntegra em todos os sentidos, sempre ajudando a família e amigos. Era muito generoso”, destaca a esposa.
Muito conhecido por seu trabalho no Espiritismo, desde os oito anos de idade já se interessava em freqüentar o centro espírita semanalmente. Desde que aprendeu a ler, Elias Barbosa interessou-se pelos livros espíritas, e aos 15 anos de idade já havia lido todos os cinco livros básicos de Allan Kardec. Ingressou na Faculdade de Medicina em 1957 e formou-se em 1962. Sendo professor de Farmacologia e Terapêutica Experimental, na Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM), e, em 1969, começou a trabalhar no Sanatório Espírita de Uberaba como médico assistente, especializando-se, a partir daí, em psiquiatria, onde atuou por mais de três décadas.

Abel Gomes



Nascido no dia 30 de dezembro de 1877,Na antiga cidade de Conceição do Turvo, hoje cidade de Salvador Firmino, e desencarnado em Astolfo Dutra,Também no Estado de Minas Gerais, no dia 16 de agosto de 1934.
Descendente de colonizadores portugueses, Abel Gomes se tornou um nome benquisto por todos e aureolado de grande respeito e admiração, projetando-se por todos os Estados brasileiros e mesmo ultrapassando fronteiras, para atingir países vizinhos.
Apesar de ser um homem simples, pobre e doente, impôs-se ao preito dos seus contemporâneos, pois não apenas ensinava, mas dava sempre o exemplo. Como sociólogo e evangelizador ele soube viver os Evangelhos, propiciando o exemplo vivo daquele que, no dizer judicioso de Jesus Cristo, “toma do arado e não olha mais para trás.”
Abel Gomes tornou-se representativa figura do Espiritismo, divulgando os seus preceitos no seio das massas e conseguindo atingir pessoas de todos os níveis sociais.
 Dentre os livros espíritas que contribuíram para a sua conversão, situa-se “Depois da Morte”, de Léon Denis, entretanto, os profundos estudos por ele encetados fizeram com que adquirisse a fé raciocinada, preconizada por Allan Kardec e, portando essa fé inabalável, dedicou-se de corpo e alma ao serviço das novas idéias que passara a esposar.
Embora fosse pregador, esquivava-se sempre que podia da tribuna, preferindo espargir os seus ensinamentos pela palavra escrita, através de suas próprias produções literárias e poéticas, todas elas aureoladas de grande profundidade moral e espiritual.
Ficou impossibilitado de andar quando tinha apenas 25 anos de idade, pois foi acometido de pertinaz e progressiva paralisia que lhe imobilizou as pernas. Quase cego, nunca se deixou vencer pelas expiações e pelos duros golpes da adversidade. Em sua cadeira de rodas continuou a produzir como poucos, jamais esmoreceu, o seu dinamismo era inquebrantável.
Pobre de bens materiais, jamais alimentou desejos de enriquecer-se com o ouro da Terra, pois não desconhecia que a fortuna material é um bem transitório que Deus coloca nas mãos de suas criaturas.
Exerceu a profissão de contabilista em várias firmas comerciais.
Devido à paralisia e dificuldades de locomoção começou a trabalhar em sua própria residência, como alfaiate e fotógrafo. As poucas horas de lazer que lhe restavam, dedicava-as à composição de músicas admiráveis, passando a ensinar as maravilhas do som a um pugilo de artistas-amadores. Também demonstrou nítidas qualidades de teatrólogo.
Embora não se tenha casado, foi pai adotivo de dois rapazes que se tornaram cidadãos prestativos e respeitáveis.
Abel gomes fez parte de um pugilo de pioneiros do Espiritismo em Minas Gerais, entre os quais podemos citar João Ernesto, em Ubá; João Marcelino, na cidade de Pombas; Eurípedes Barsanulfo, em Sacramento; José Justiniano de Godoy e Jota Lacerda, em Cataguazes; José Alves Ferreira, Antonio Correntino e Franklin Teodoro dos Santos, em Araguari; e outros.
No ano de 1928, em companhia de outros denodados seareiros, fundou o Grupo Espírita Luz e Trabalho, no antigo Porto de Sto. Antonio, instituição que teve vida efêmera. No dia 2 de julho de 1933, coadjuvado por outros doze espíritas, fundou novo Centro Espírita, dando-lhe o nome do primeiro.
Após a sua desencarnação essa instituição passou a chamar-se Cabana Espírita Abel Gomes. Posteriormente, os seus continuadores lançaram à publicidade o jornal “Arauto da Fé” e implantaram a Fundação Espírita Abel Gomes, que passou a amparar 30 crianças.
Exegeta de grandes recursos, Abel Gomes esmerava-se na interpretação de textos bíblicos, impregnando, com os lampejos do espírito que vivifica, vários ensinamentos contidos no Velho e no Novo Testamentos. Freqüentemente apelava para os acontecimentos da vida prática, explicando-os à luz da Doutrina Espírita, o mesmo fazendo com as parábolas e ensinos de Jesus Cristo. A sua maneira preferida de ensinar era através do exemplo dignificante.
Na qualidade de professor, exerceu o magistério nas cidades de Cataguazes e Vicosa, lecionando português e matemática. Foi um autêntico autodidata, não tendo cursado nenhuma Faculdade e nunca se matriculou num ginásio. A primeira vez em que entrou num desses estabelecimentos, foi para ensinar aquilo que já havia aprendido. Foi um homem dotado de sólida cultura e de incomparável senso humanístico.
Poliglota, dominava bem o português, o francês, o castelhano, o italiano e conhecia razoavelmente o grego e o latim. Foi também um dos pioneiros do Esperanto em nosso país, e consta que foi o primeiro a lançar uma gramática para o ensino desse idioma internacional.
Abel Gomes foi um homem de letra, tendo deixado numerosas obras ocultas no anonimato ou encobertas por pseudônimo (entre os quais o de Jota Ubirajara). Escreveu obras notáveis entre as quais “Braz Pires”, “A Felicidade”, e “Pérolas Ocultas”. Prestou inestimável colaboração a publicações brasileiras e portuguesas.
Foi um poeta de grandes recursos.
O seu gênero era o lírico, deixando extravasar a sua alma em cânticos maravilhosos, abordando problemas humanos, patrióticos e religiosos, esses últimos com fundamento nos sadios ensinamentos da Codificação Kardequiana.
No seu magistral poema “A Dor”, traduziu a sua conformação aos ditames do Alto, compenetrado que era das razões dos sofrimentos que o assolavam.
Abel Gomes foi, portanto, um dos mais autênticos espíritas dos últimos tempos e o Espiritismo muito lhe deve pelo seu inestimável trabalho em favor da sua divulgação, principalmente no Estado de Minas Gerais.