domingo, 24 de junho de 2012

O Primado do Espírito


 O Primado do Espírito

A história das civilizações está repleta de eventos interexistenciais denominados mediúnicos, que
não encontram encaixes adequados no modelo descritivo do mundo sensorial restrito ao espaço-
tempo que conhecemos através do corpo, em consciência de vigília.

São comuns em todos os tempos os relatos de experiências de pessoas reconhecidas como
médiuns, pitonisas, sensitivos, profetas, canalizadores, etc... que vivenciam contatos com
consciências não-físicas, desencarnados, mortos, espíritos, provocando fen�?menos que desafiam
as leis conhecidas do universo físico e psicológico concebido pela modernidade.

São exemplos, a escrita direta bem conhecida pela história judaica da gênese dos Dez
Mandamentos, a psicografia e a psicofonia, a clarividência e a clauriaudiência, muito comuns
nas sessões mediúnicas, a psicopictografia, a psicomusicografia, a psicoxilografia em expansão
no final do século XX, a ectoplasmia ou materialização, a xenoglossia e a hiloclastia, fen�?menos
menos conhecidos e mais raros na atualidade. Quando ocorrem, geralmente contam com a
presença ostensiva de uma pessoa em estado de transe, muitas vezes sem cultura ou formação
para entender as comunicações, ou produzir fatos com habilidade fora do comum, a exemplo de
pinturas, modelos em parafinas, cirurgias físicas, diagnósticos e informações históricas.

Estas situações mereceram usualmente explicações acadêmicas, geralmente enquadrando-as no
rol de patologias, habilidades de um inconsciente psíquico, fraudes e mistificações, o que em
alguns casos, eram hipóteses consistentes.

A medida, porém, que se mu ltiplicaram os estudos, principalmente entre 1850 e 1960, e cada vez
mais se constatou a variedade do espectro da fenomenologia e a impossibilidade de incluir tantos
estudos controlados nas teses vigentes, tornou-se claro que a teoria dominante estava eivada de
casos de exceção, as anomalias de Kuhn.

Tal fenomenologia anunciava-se uma crise paradigmática de alta envergadura, pois os pilares da
visão de mundo mecanicista, tendo a matéria como matriz do universo, o espaço e o tempo
absolutos como características estruturantes do cosmos, e a consciência como produto do
cérebro estavam sendo questionados. Como ocorre nestas situações, há um enfraquecimento do
poder hegem�?nico do modelo explicativo dominante, em que pese os esforços dos seus
defensores, e surgem possibilidades de percepção diferenciada por observadores menos
integrados psicologicamente com a estrutura vigente.

Isto parece ter ocorr ido em Paris dos anos 50 do século XIX, com Hypolite Léon Denizard Rivail,
que assistiu a uma sessão na residência da Sra. Plainemaison, e, ao presenciar o fen�?meno de
mesas que giravam, saltavam, além de escritas através de um aparelho rudimentar, uma ardósia
-auxiliado por uma cesta, conforme seu relato, entreviu, naquele passatempo da época, a
possibilidade de estar diante de eventos que fugiam à regra geral das explicações físicas.

Após multiplicar suas experiências em diferentes lugares, situações de controle, e com diversos
participantes sensitivos, construiu um modelo de universo com duas faces, no qual a parte física é
a menos significativa, sendo efeito de uma realidade espiritual, essência do cosmos ou mundo
existencial, este em constante transformismo evolutivo. Estava ele subvertendo a gnose vigente,
pois a matéria tal como a conhecemos era, na sua descrição, apenas uma parcela impermanente
da manifestação do espírito. Ele corroborava com fundamentação experimental com muitas

assertivas religiosas e filosóficas, que permeiam a cultura humana sobre a vida após a morte
corporal.

E para facilitar o trabalho de futuros estudiosos, reduzindo os percalços num terreno tão obscuro
para a maioria da humanidade, publicou em 1861, com o pseud�?nimo de Allan Kardec, o Livro
dos Médiuns, tendo como conteúdo doutrinário o “ensino especial dos espíritos sobre a teoria de
todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o mundo invisível e as
dificuldades que se podem encontrar na prática do Espiritismo”, conforme consta no seu escrito.

Durante os 150 anos subsequentes, muitos estudos foram realizados, acrescentando informes
em detalhes, revelando outros fen�?menos mediúnicos e, basicamente, confirmando os principais
saberes exarados na publicação supramencionada.

Verificamos, entretanto, que embora tenhamos, somente no Brasil, cerca de dez mil instituições
espíritas, que se utilizam em maior ou menor grau das informações contidas neste livro, ainda
não nos apercebemos do caráter revolucionário dos informes, ao abrir a mente humana para a
supremacia do espírito sobre a matéria.

As consequências nas ciências da natureza e do homem, na filosofia de vida, na experiência
religiosa, na organização social, que tal supremacia gerará, são incomensuráveis no mundo
contemporâneo.

Admitimos que a influência espírita para o progresso da humanidade, altamente renovadora dos
valores humanos se dará, na medida em que demonstrarmos mais vivamente a influência dos
espíritos no cotidiano, levantando o véu que encobre esta interação, e com eles estabelecermos
parcerias interexistenciais na produção do conhecimento, nos cuidados com a saúde e educaçã o
integrais e nas práticas sociais.

As barreiras da atualidade que antevemos sendo superadas pela evolução psíquica da
humanidade, permitindo o surgimento de médiuns em qualidade e quantidade superiores ao
momento atual, auxiliados pelas tecnologias da transcomunicação instrumental, deverão ser
reduzidas para aquelas comunidades que se desenvolverem sob a égide de uma ética mais
exigente e mais próxima dos valores universais, condição essencial neste tipo de convivência,
para termos acessos às faixas espirituais de maior elevação, conforme anunciaram os espíritos.

Reputamos de máxima relevância enfatizar o primado do espírito, enraizando tal saber na
comunidade espírita, que mais consciente influenciará as decisões dos organismos da sociedade.
Para tanto, já estamos organizando o XIV Congresso Espírita do Estado da Bahia que acontecerá
no período de 3 a 6 de novembro, em Salvador, como culminância de todos os eventos
federativos que o antecedem e que abordarão este tema em comemoração ao sesquicentenário
de O Livro dos Médiuns.

Esperamos reunir o maior número de experimentadores e sensitivos baianos, que
voluntariamente, se disponham a participar, desde já, na construção coletiva do evento,
integrando-se por iniciativa própria às reuniões federativas pertinentes, a primeira delas prevista
para 29 de janeiro, no turno matutino, na sede central da FEEB.

O desafio de relatarmos a trajetória da “invasão organizada dos mortos” que se iniciou no tempo
de Allan Kardec, e ampliarmos suas consequências socioculturais, acelerando a renovação dos
valores contemporâneos é de todos aqueles que, atuando no movimento espírita, sentem o

esgotamento da civilização e percebem como dever impostergável colocar seu tempo e sua
experiência para dar uma contribuição signi ficativa à história da Humanidade.

Todos, portanto, que sintonizamos com este desafio, estamos sendo chamados para realizar
eventos em prol desta revolucionária visão paradigmática.

André Luiz Peixinho

Diretor Presidente da Federação Espírita do Estado da Bahia.

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